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Foto: Divulgação/FapegOs pesquisadores estão investigando aplicações do material diretamente no tumor e outras aplicações no sistema circulatório
Balbúrdia: Físicos da UFG sintetizam nanopartícula que trata câncer com calor
23/05/2021, às 13:50 · Por Eduardo Horacio
Um grupo de pesquisadores do Instituto de Física da
Universidade Federal de Goiás (UFG), liderado pelo professor Andris Bakuzis,
sintetizou uma nanopartícula magnética feita de materiais chamados
teranósticos, com aplicações simultâneas em tratamento e em diagnóstico do
câncer, com mínima toxicidade. As pesquisas são realizadas junto ao Núcleo de
Nanomedicina Térmica, que é um projeto que conta com financiamento do Governo
de Goiás por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).
“Desenvolvemos uma nova nanopartícula que tem potencial para ser usada como um
termômetro, ou seja, pode monitorar essa entrega de calor”, destaca Bakuzis.
Para ele, esse é um importante avanço, porque demonstra que esse tipo de
nanocarreador multifuncional sintetizado pode ser utilizado em nanotermometria
luminescente, o que permite o monitoramento dessas nanoterapias térmicas, de
forma não-invasiva. “Espera-se com isso aumentar a eficiência desse tratamento
que depende dessa dose térmica para o sucesso do monitoramento”, explica ele.
“Estamos aprimorando ainda mais esse sistema para fazer estudos in vivo,
inclusive em modelo tumoral metastático”, ressalta o pesquisador. A equipe
desenvolveu um nanocarreador multifuncional à base de óxido de ferro dopado com
zinco e manganês visando aplicação no tratamento, em condições clínicas, por
hipertemia magnética (HM) – tratamento oncológico que usa o calor para destruir
as células-alvo com câncer.
A nanopartícula magnética multifuncional pode gerar e monitorar calor (em tempo
real) durante a terapia térmica. Os autores demonstraram que essa nova
nanoestrutura tem aplicações interessantes também em terapia fototérmica, o que
possibilita aplicações mais profundas no corpo do paciente por meio de laser,
assim como tem potencial para monitoramento da entrega de calor de forma não
invasiva por meio de nanotermometria luminescente.
O grupo está trabalhando, pensando também no tratamento de pacientes
metastáticos. Os pesquisadores estão investigando aplicações do material
diretamente no tumor e outras aplicações no sistema circulatório.
O professor Andris Bakuzis explica que a expectativa é que este tratamento
possa gerar uma ativação do sistema imune do paciente, levando a um efeito
semelhante a uma vacinação, o que é chamado de “in-situ vaccination”, que pode
ser realizado com as nanopartículas. O grupo do professor Bakuzis conta com
estudos avançados neste sentido, mas ainda sem publicações.
“Nosso grupo está tentando entender como ativar a resposta imunológica por meio
do controle dessa temperatura. Curiosamente, a ideia é que um tratamento local
pode ativar o sistema imunológico, permitindo o reconhecimento de células
tumorais pelo sistema imune do paciente. Nesse caso as células T aprendem a
reconhecer o tumor, e ao encontrá-lo em outras regiões ataca o mesmo. Na
literatura chamamos esse fenômeno de efeito abscopal”.
O professor comemora ainda a oportunidade de contribuir com a formação de
profissionais qualificados, especialistas nesta promissora técnica de
nanomedicina. “Esperamos que este resultado fortaleça a pesquisa e o
conhecimento para o tratamento oncológico, contribuindo de forma efetiva no
combate dessa doença que constitui um grave problema de saúde pública em todo o
mundo”, conclui.
Fapeg UFG Ciência Câncer Nanopartícula Instituto de Física da UFG Andris Bakuzis