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Roque de Sá/Agência SenadoFala de Vanderlan mostra que ele parece desconhecer, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente - da qual o Brasil e outros 190 países são signatários
Vanderlan usa seu exemplo de riqueza para fazer apologia ao trabalho infantil aos 6 anos de idade
06/07/2019, às 01:01 · Por Eduardo Horacio
Após uma polêmica declaração favorável ao trabalho durante a
infância, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi alvo de muitas críticas de
especialistas em educação e defensores dos direitos humanos. Ainda assim, o
senador Vanderlan Cardoso (PP-GO) pegou carona na polêmica 24 horas depois e,
fazendo referência ao seu sucesso empresarial, defendeu a controversa posição
do presidente da República.
Os eleitores goianos já estão cansados de saber que
Vanderlan gosta de contar sua história de sucesso no meio empresarial. Em todas
as campanhas, o parlamentar destaca sua infância pobre e os trabalhos simples
que exerceu durante a vida, até se transformar em um dos maiores empresários do
Estado.
“Trabalho desde 6 anos de idade. Engraxei sapatos. Vendi
bolo que minha mãe fazia. Fui feirante e tantas outras profissões”, relatou
Vanderlan Cardoso em sua conta no Twitter. “Antes de completar 18 anos já tinha
minha empresa. Hoje, além de senador, sou empresário e dou emprego a mais de 2
mil pais de família. O trabalho enobrece”, aponta o senador.
Para qualquer cidadão, acreditar que o trabalho aos seis anos de idade “enobrece” é grave. Para um senador da República, responsável por zelar pelo cumprimento da nossa Constituição, confessar que é favorável ao trabalho infantil não é apenas lamentável, como também preocupante. Falas desse tipo atrapalham os já desidratados programas de erradicação do trabalho infantil - um dos problemas sociais mais graves do Brasil.
Vanderlan parece desconhecer, por exemplo, o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA). O artigo 53, por exemplo, destaca que “a
criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento
de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o
trabalho”. “É proibido qualquer trabalho a menores de 14 anos de idade”, resume
o artigo 60 – algo do qual o Brasil e mais 190 países são signatários.
Vanderlan trabalhou, ganhou dinheiro, tornou-se milionário e
decidiu, então, migrar para a política – cujo mandato hoje é pautado pela
defesa contundente da classe empresarial. Acreditar que o fato de ser uma raríssima
exceção pode ser exemplo de conduta não é apenas falácia, é um completo
descompasso com a realidade.
O trabalho na infância suprime direitos fundamentais.
Criança que trabalha, em geral, está fora da escola ou tem desempenho inferior
às demais – sem mencionar as brincadeiras, atividades lúdicas e estabelecimento
de relações sociais. Sem educação efetiva, o futuro profissional e psicológico
dessa criança estará comprometido definitivamente.
Vanderlan sonha em ser governador de Goiás, cargo que já
tentou duas vezes, e prepara-se para a disputa eleitoral de 2022. Para se cacifar
à disputa, seria melhor o senador estudar minimamente pelo menos os direitos
das crianças e adolescentes.
Bolsonaro
Durante transmissão semanal no Facebook, na última quinta-feira, 4, o
presidente Jair Bolsonaro defendeu o trabalho durante a infância. Segundo ele,
trabalhou em uma fazenda, no interior de São Paulo, quando o pai era
administrador da propriedade na região de Eldorado Paulista, no Vale do
Ribeira.
“Eu, com 9, 10 anos de idade, quebrava milho na plantação e
quatro ou cinco dias depois, com sol, ia colher o milho. Olha só, trabalhando
com 9, 10 anos de idade, na fazenda, não fui prejudicado em nada”, afirmou.
Para Bolsonaro, o trabalho não “atrapalha a vida de ninguém”.
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