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Foto: Rosiron RodriguesMarcelo Almeida: o discurso de “terra arrasada” é feito para impedir atletas de crescerem o olho em renovações ou para tentar aumentar os valores dos patrocínios existentes?
Em entrevista desastrosa, presidente do Goiás assusta torcida ao falar de finanças
20/07/2019, às 00:09 · Por Eduardo Horacio
Na semana em que o principal estudo sobre as finanças dofutebol brasileiro realizado pelo Itaú BBA aponta o Goiás Esporte Clube como umdos clubes com melhor gestão financeira do País, o presidente do clube Marcelo
Almeida faz um estranho discurso na contramão, reclamando de dificuldades para
honrar os compromissos e criando um cenário de instabilidade interna.
Há quem diga no Goiás que o discurso de “terra arrasada”
veio para impedir atletas de crescerem o olho em renovações e também para
tentar aumentar os valores dos patrocínios existentes. Hoje, no entanto,
qualquer um tem acesso ao balanço completo do Goiás nos mínimos detalhes, sendo
impossível fantasiar uma situação que não existe – a não ser que ninguém cheque
uma informação.
Números
Após três anos na Série B, O Goiás voltou para a Série A do futebol brasileiro
ostentando uma saudável condição financeira. Registrou em 2018 receitas de R$
80,8 milhões, com R$ 9,3 milhões de superávit. Os dados do Itaú BB apontam
ainda uma dívida residual de apenas R$ 16 milhões, uma das menores entre os 20
clubes da primeira divisão.
Ainda assim, em entrevista à rádio Sagres 730, o
presidente do Goiás alardeou uma situação de calamidade financeira. Segundo
ele, o clube gastou muito com as reformas da Serrinha e do Serra Dourada (em
torno de R$ 10 milhões), hoje um déficit mensal de R$ 2 milhões.
O custo total mensal do esmeraldino, de acordo com Marcelo
Almeida, é de R$ 5 milhões. Em um ano, o descompasso financeiro chegaria,
portanto, a R$ 24 milhões, ante a um custo total em torno de R$ 60 milhões.
Reforço da TV
O presidente do Goiás Marcelo Almeida queixa-se de que a maior parte do
dinheiro com os direitos de transmissão só chegará no final do ano. É fato.
Porém, todos os clubes estavam cientes previamente de que teriam dificuldade
com fluxo de caixa diante do novo modelo de direitos de transmissão.
O que o presidente do Goiás não explicou à Sagres 730 é
que o potencial de receitas com direitos de TV é substancialmente maior que o
do ano passado. Só de recursos garantidos o clube tem hoje R$ 38,5 milhões – R$
22 milhões (TV Globo), R$ 10 milhões (Sportv) e mais R$ 6,5 milhões (Premiere).
No ano passado, o Goiás anotou em seu balanço R$ 35,3 milhões com direitos de
transmissão.
O valor mínimo garantido ao Goiás, no entanto, será superado
com muita folga. Além dos valores fixos aos quais todos os clubes têm direito
(40% dos direitos da TV aberta e fechada), outros 60% serão distribuídos de
acordo com o número de transmissões pelas emissoras e posição no campeonato.
Até aqui, o Goiás teve dois jogos transmitidos pela Globo e
outros três jogos pelo canal fechado Sportv. Os dois canais distribuem 30% dos
direitos de acordo com o número de jogos televisionados. Há ainda uma terceira
cota (também de 30%) dividida pela posição do clube ao final da competição (do
1º ao 16º lugares).
Hoje, em 9º lugar, o alviverde teria direito a mais R$ 23
milhões da Globo e outros R$ 6,8 milhões do Sportv. Se ficar em 16º lugar, última
posição acima do rebaixamento, ainda o Goiás receberá das TVs aberta e fechada,
respectivamente, R$ 11 milhões e R$ 2,2 milhões.
Calculando todas as previsões de receitas somente com direitos de transmissão, em uma conta bastante conservadora, o Goiás E. C. terá direito a uma cota acima de R$ 55 milhões, o suficiente para cobrir o custo
total no ano. Na Série A, o clube certamente ainda terá reforço de caixa com
bilheteria, sócio torcedor, patrocínios e licenciamentos.
Fluxo de caixa
Os especialistas em finanças no futebol brasileiro haviam alertado sobre a
dificuldade pontual com fluxo de caixa pelos clubes com a mudança nos direitos
de transmissão em 2019, já que que a maioria é muito dependente das cotas de
TV. Ou seja, os clubes têm previsão orçamentária, mas não dinheiro em caixa no
início da temporada.
Neste cenário, a prática comum dos clubes de buscar
empréstimos em bancos para garantir todos os pagamentos mensais passaria a ser
ainda mais corriqueira, o que se tornou realidade. Pelo visto, a mudança de
hábito assustou o presidente do Goiás – ou ele só quis ser um bom jogador de
pôquer. E funcionou para muitos.
Goiás E.C. Marcelo Almeida