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Foto: Alan Santos/PR
Em tom irônico, Bolsonaro disse que a medida que derruba a lei de autoria de Caiado vai “ajudar a imprensa de papel” porque as empresas não terão mais que publicar seus balanços
Bolsonaro altera lei de Caiado e ataca impressos com nova MP que desobriga balanços em jornais
07/08/2019, às 00:40 · Por Eduardo Horacio
Com o objetivo de desidratar financeiramente os jornais
impressos, o presidente Jair Bolsonaro editou uma medida provisória para alterar
uma lei que ele mesmo sancionou, a 13.818, que trata do regime simplificado de
publicidade de atos societários e publicações de sociedade anônima.
A Lei 13.818, de 24 de abril de 2019, originária do projeto de lei do então senador Ronaldo Caiado (DEM), hoje governador de Goiás, dispensava as companhias fechadas (sem ações negociadas em bolsa) com menos de 20 acionistas e patrimônio líquido de até R$ 10 milhões de publicar edital para convocar assembleia geral dos acionistas e documentos exigidos da diretoria da empresa, como os balanços. Caiado argumentou na lei que o valor atual foi estabelecido em 2001. Com a defasagem, acrescentou, poucas companhias são favorecidas, já que a maioria possui patrimônio líquido superior a R$ 1 milhão.
MP derruba lei de Caiado
Esta exigência, que constava da lei de Caiado sancionada em
abril por Bolsonaro, agora foi retirada pela Medida Provisória 892, que está
publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira, 6 de agosto. A partir
de agora, as publicações obrigatórias devem ser feitas apenas pelos sites da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o da própria companhia e o da B3, no
caso das empresas de capital aberto. A CVM é que vai regulamentar a
aplicação da legislação alterada, possivelmente por meio de instruções
normativas. O ministro da Economia definirá ainda a forma de publicação e de
divulgação dos atos relativos às companhias fechadas.
Em tom irônico, Bolsonaro disse que a medida vai “ajudar a imprensa de papel” porque as empresas não terão mais que publicar seus balanços. Com a medida, no entanto, os jornais impressos saem perdendo porque não terão mais a chance de ganhar dinheiro com a publicação dos balanços, antes obrigatórios.
Resposta dos jornais
Em nota oficial, a Associação Nacional de Jornais (ANJ)
disse que recebeu "com surpresa e estranhamento" a edição da MP. A
entidade afirmou que o texto está "na contramão da transparência de
informações exigida pela sociedade" e acrescentou
estar "avaliando a melhor forma de evitar que a MP 892 seja
aprovada".
No mesmo discurso, Bolsonaro criticou a imprensa e citou
expressamente o jornal Valor Econômico. “Eu espero que o Valor Econômico
sobreviva à medida provisória de ontem, eu espero", disse, gargalhando. “Vão
fazer este tipo de política? E pensar que o Valor me entrevistou por duas vezes
durante a campanha, sendo que a segunda manchete era ‘Bolsonaro tem a política
econômica idêntica à de Dilma Rousseff'. Pelo amor de Deus, pô. Eu não sou um
Dilmo de calça comprida”, disse, para concluir: “Imprensa, eu ganhei as
eleições, eu sou o Johnny Bravo. Parem de me derrubar. Vamos em frente. Vamos
criticar com razão”.
Pesquisando todas as edições do Valor, não se encontra nenhuma entrevista dele ao jornal durante a campanha eleitoral, mesmo com o periódico tendo procurado. Em 2017, cerca de um ano antes da eleição, Bolsonaro deu duas entrevistas ao jornal, quando ainda não tinha a consultoria do hoje ministro Paulo Guedes. Nos jornais também não há a afirmação de que a política econômica de Bolsonaro era idêntica à de Dilma Rousseff.
Retribuição
Mais tarde, em outro evento, Bolsonaro voltou ao assunto. O
presidente disse ter ‘retribuído’ o tratamento recebido da imprensa durante a
campanha eleitoral ao assinar a MP que acaba com a obrigatoriedade da
publicação atos societários e publicações de sociedade anônima em jornais
impressos. Bolsonaro disse que durante as eleições presidenciais “quase toda
mídia, o tempo todo”, ficou “esculachando a gente, chamando de fascista,
homofóbico, racista, e seja lá o que for” e, por isso, ele “retribuiu parte
daquilo que grande parte da mídia me atacou assinando uma Medida Provisória
fazendo com que os empresários, que gastavam milhões de reais para publicar
obrigatoriamente, por força de lei, seus balancetes nos jornais, agora podem
fazer no Diário Oficial da União, a custo zero”.
Na justificativa oficial da Medida Provisória, Paulo Guedes diz
que a medida reduz custo para as empresas e isso abrirá espaço para o
desenvolvimento do mercado de capitais. Empresas de menor porte poderão se ver
incentivadas a mudar de tipo societário e, dessa forma, acessar essa nova forma
de financiamento.
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