Um ano sem Iris: a ausência de quem se manteve relevante por mais de 60 anos

Um ano sem Iris Rezende já expôs o quão desfalcada está a política goiana. Muito já foi dito e ainda será dito sobre Iris Rezende, mas o fato concreto é que pouquíssimos políticos brasileiros conseguiram ficar relevantes por mais de 60 anos consecutivos. Iris conseguiu ser relevante até no período em que foi cassado pela Ditadura Militar, quando sua atuação como advogado era acompanhada e comentada de perto por toda Goiânia. Sua cassação o colocou como símbolo da democracia em Goiás. 

Sua maior marca, além do apogeu por seis décadas, foi estar sempre à frente de seu tempo. Avesso a modinhas, Iris sempre focou na verdadeira modernidade. Como administrador, sempre viu além, geralmente quilômetros à frente.

Não é à toa que Iris ficou conhecido no Brasil todo por várias gerações, provavelmente o único goiano com esse status. Não é à toa que Iris foi duas vezes ministro, uma vez da Agricultura e uma vez da Justiça. É pela força como gestor e também pelo peso político. Iris, aliás, nunca viu antagonismo entre gestão técnica ou gestão política. Uma é base para a outra funcionar – em mão dupla.

Se Goiânia hoje não tem favelas, Goiânia deve isso a Iris – e, verdade seja dita, nunca deixou de agradecê-lo por isso. Quando começou o processo de favelização de Goiânia, Iris agiu rápido e criou vários bairros específicos para a moradia, como a Vila União, a Vila Mutirão, a Vila Canaã, a Vila Redenção, a Vila Alvorada e a Vila Morada do Morro.

A Praça Universitária, em Goiânia é referência em arquitetura no Brasil até hoje, com seus anéis internos. Inclusive foi premiada por isso. Em termos de asfalto, ele pavimentou 7 mil km na sua primeira gestão de governador e asfaltou Goiânia inteira duas vezes – quando foi prefeito nos anos 60 e quando voltou a ser prefeito em 2005.

O seu projeto de eletrificação rural, adotado nos anos 80, foi copiado pelo governo federal 30 anos depois, com o programa ‘Luz para Todos’. Lá nos anos 80, Iris construiu usinas e subestações, triplicando o fornecimento de energia para a população.

Seu programa de moradia, que teve largada nos anos 60 e que voltou a brilhar nacionalmente em 1983 foi base para o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’. As ações do mutirão eram criticadas por adversários, mas agora até o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou de “mutirão” várias vezes o que agora pretende fazer para reconstruir o Brasil. O governador reeleito Ronaldo Caiado (UB) também chama suas ações de “mutirão”.

Quando falar em industrialização em Goiás era quase um palavrão, Iris criou o Fomentar, atraindo empresas e empregos. Preocupado com o futuro de Goiânia e da Região Metropolitana, Iris fez a Estação de Tratamento de Água do Meia Ponte e um ano depois fechou com o Banco Mundial um financiamento para as obras da barragem do João Leite.

Com olhar voltado ao meio ambiente, quando ninguém falava nisso, Iris fez mais de 30 parques em Goiânia, não só na região central, mas também nos bairros mais afastados. Se Goiânia é hoje a capital mais arborizada do Brasil, isso tem o dedo dele. No Ministério da Justiça, já com o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Iris ajudou a dar autonomia à Polícia Federal, algo que é marca da instituição.

Iris falou de igual para igual com nomes da política nacional nos anos 80 e 90. Tanto que ele trouxe para Goiânia, há quase 30 anos, o primeiro comício das Diretas Já, com milhares de pessoas na Praça Cívica. Na sequência, na mesma luta pela democracia, fez em Goiânia o primeiro ato da candidatura indireta de Tancredo Neves a presidente do Brasil.  Com Iris, Goiás passou a falar grosso também no campo político. Como uma vez escreveu Vassil Oliveira, Iris sempre foi do tamanho dos cargos que ocupou, daí sempre ter saído maior de todos os cargos que ocupou.

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Iris Rezende Legado 1 ano sem Iris