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Foto: Divulgação/Chorinho
Já tradicional e sucesso de público e de crítica, o Chorinho é promovido no mesmo local e com a mesma periodicidade pela Secretaria de Cultura de Goiânia há 12 anos.
Polícia Militar age com truculência e assusta público do Chorinho
01/09/2019, às 00:25 · Por Eduardo Horacio
Tradicional evento musical promovido pela Prefeitura de
Goiânia no centro da Capital, Grande Hotel Vive o Choro teve uma noite
conturbada na última sexta-feira, 30. A Polícia Militar (PM) proibiu a venda de
bebidas alcoólicas por ambulantes no local e tentou inibir as apresentações,
deixando frequentadores assustados. A coordenação do Chorinho, como é conhecido
o evento, emitiu nota repudiando a ação da Polícia.
Com grupos de choro e atrações musicais de MPB e samba
valorizando artistas locais, o Chorinho é realizado as sextas-feiras,
atualmente em um intervalo de 15 dias, em frente ao Grande Hotel, entre a
Avenida Goiás e a rua 3, no centro de Goiânia. Com pouca descontinuidade, o
evento é promovido pela Secretaria de Cultura do município há 12 anos.
O caráter democrático, de rua e gratuito, sempre foi o
diferencial do Chorinho na cena cultural goianiense. E justamente essa
participação popular (que atrai a cada edição trabalhadores da região central,
estudantes, ambulantes, artistas e moradores de rua) no centro de Goiânia, que
tem causado incômodo à Polícia Militar. Aos promotores, policiais afirmaram que
se tratava de “loucura” a realização em local aberto.
Ao contrário de outros dias, em que cumpriu a missão de
garantir segurança aos frequentadores, na última sexta-feira a PM chegou ao
local com uma estratégia diferente, querendo “organizar” a atividade cultural.
Após proibir a venda de bebida alcóolica e estacionar uma viatura em frente ao
palco, o comando do policiamento no local começou a dar sugestões e até sugerir
o fim das apresentações no local. “Por que vocês não mudam isso para um lugar
fechado?”, questionou o PM.
Desabafo
Coordenador do Chorinho, o jornalista Carlos Brandão fez um longo desabafo nas
redes sociais questionando a ação da PM no local e endereçando críticas
diretas ao governador Ronaldo Caiado. “O senhor deveria, antes de sair pela
cidade metendo o bedelho em atividades culturais, cuidar da sua própria
Secretaria de Cultura, que até hoje não disse a que veio. A sua Polícia não
deve sair pela cidade se arvorando de curadora de atividades culturais e
definindo o que pode e o que não pode”, atacou, em nota.
A ação da PM causou impacto imediato entre os frequentadores
do Chorinho. Um dos coordenadores da Parada do Orgulho LGBTI de Goiânia, o
jornalista Leorcino Mendes, presente ao evento, demonstrou preocupação com a
forma com que a polícia agiu no local, também muito frequentado pela comunidade
LGBT.
Leorcino Mendes demostra preocupação com o trabalho da Polícia no dia 8 de setembro, quando mais de 100 mil pessoas são esperadas no centro da Capital para a 24ª Parada do Orgulho LGTB de Goiânia. “Eu acho que na Parada não vai ser diferente”, preocupou-se o ativista.
Confira abaixo a íntegra do relato do coordenador do
Chorinho, Carlos Brandão, no Facebook:
Desde que o Chorinho foi criado, em 2007/8, pela secretaria
de Cultura de Goiânia, que um dos focos das pessoas que fizeram/fazem sua
produção, é a segurança. Para isso, sempre foi solicitado apoio da Polícia
Militar e da Guarda Municipal. Para ser honesto, pelo menos nas vezes que fiz a
produção, raramente fui bem atendido por essas corporações.
Ontem, fui surpreendido com a escalação de uma equipe enorme
de policiais militares, para “organizar” o Chorinho. O comandante da equipe
chegou e já proibiu os ambulantes de venderem bebidas alcóolicas. Ok, começamos
mesmo assim, porque nosso foco é a música. Mas o rapaz do comando, começou a
dar palpites na organização do Chorinho. Isso pode. Aquilo não pode. Vcs devem
mudar esse evento de lugar, etc, etc, etc.
Não quero me dirigir a esse rapaz, que estava lá, com certeza, cumprindo ordens
do seu comando. Quero me dirigir ao chefe maior desse rapaz.
Governador Ronaldo Caiado, eu acho que o senhor
deveria, antes de sair pela cidade metendo o bedelho em atividades culturais,
cuidar da sua própria secretaria de cultura, que até hoje não disse a que veio.
A sua polícia, senhor Ronaldo Caiado, não deve sair pela cidade se
arvorando de curadora de atividades culturais e definindo o que pode e o que
não pode acontecer.
Se o governador de Goiás avaliza essas atitudes, a gente
pode dizer que estamos realmente fodidos e mal pagos. Repito, senhor Ronaldo
Caiado: dê condições para que sua secretaria de Cultura funcione. Cuide do seu
quintal. Não há necessidade de colocar sua PM para definir o que pode e o que
não pode acontecer, culturalmente, na Grande Goiânia.
O Chorinho sempre pediu apoio da segurança pública estadual
e municipal. É público e notório que os órgãos de segurança do Estado nunca
viram com bons olhos essa atividade cultural. Tudo que é feito na rua, dá
trabalho, senhor Caiado. Se o senhor não entende de Cultura, eu tenho 50 anos
de trabalho nessa área e posso lhe explicar algumas coisas.
E o senhor precisa explicar isso aos seus policiais. A ordem
é fechar o Chorinho, disse o rapaz de ontem. “Por que vocês não mudam isso para
um lugar fechado?”, perguntou. “Isso que vocês estão fazendo aqui é uma
loucura, é impossível fazer isso no meio da rua”, explicou, como se ele entendesse
alguma coisa de atividades culturais.
Governador Ronaldo Caiado, se liga: sua polícia fechou
boa parte das Batalhas de rap que existiam pela cidade. Se o senhor ainda não
foi apresentado para o hip hop, essa arte é um dos portos seguros dos jovens da
periferia. O rap salva pessoas, senhor Ronaldo Caiado. Peça um estudo do
tema, para sua secretaria de Cultura e tenho certeza que ela vai lhe mostrar
essa realidade.
Repito e encerro: a cidade e os produtores de Cultura não
precisam do “auxílio luxuoso” da sua PM, para realizarem suas atividades
culturais, senhor Ronaldo Caiado. E como produtor do Chorinho, agradeço toda e
qualquer ajuda no sentido de dar segurança para o público que vai assistir aos
shows. Mas dispenso o apoio da PM, na produção e curadoria do mesmo. Como
dizem: cada qual no seu quadrado. Ado. Ado. Ado!
Carlos Brandão
Chorinho Leorcino Mendes Secult Secretaria de Cultura PM-GO Polícia Militar