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DivulgaçãoSeca no Cerrado, em Goiás, é a pior dos últimos 700 anos; estudo aponta que o aquecimento na região central do Brasil é cerca de 1°C acima da média global, agravando a seca no bioma
Seca no Cerrado, em Goiás, é a pior dos últimos 700 anos
30/06/2024, às 09:19 · Por Redação
A seca no Cerrado brasileiro, em Goiás, atingiu um nível sem precedentes em 700 anos, de acordo com um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista Nature Communications. Os dados revelam que o aquecimento global tem sido mais intenso na região central do Brasil, com temperaturas subindo aproximadamente 1°C acima da média global de 1,5°C.
Essa elevação das temperaturas está causando um distúrbio hidrológico significativo: a água da chuva está evaporando antes de se infiltrar no solo, o que tem levado a mudanças nos padrões de precipitação e uma menor recarga dos aquíferos. Esse fenômeno está afetando diretamente os níveis dos rios tributários do rio São Francisco.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da National Science Foundation dos Estados Unidos, analisaram dados de temperatura, vazão, precipitação regional e balanço hidrológico da Estação Meteorológica de Januária, em Minas Gerais, com registros iniciados em 1915. Esses dados foram correlacionados com variações na composição química de estalagmites de uma caverna no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.
Professor do Instituto de Geociências da USP e um dos autores do estudo, Francisco William da Cruz Junior explicou à Folha de São Paulo que "com o uso de dados geológicos foi possível expandir a percepção da seca causada pelo aquecimento global para um período bem anterior ao dos registros meteorológicos. Dessa forma, conseguimos fazer a reconstituição do clima até sete séculos atrás". Ele acrescentou que "isso permitiu não somente provar que o cerrado está mais seco, mas que a origem dessa seca tem relação com o distúrbio do ciclo hidrológico causado pelo aumento da temperatura induzida pela atividade humana na emissão de gases do efeito estufa", explicou.
Os dados químicos foram coletados na Caverna da Onça, uma caverna aberta e localizada no fundo de um cânion de 200 metros de profundidade. "Trata-se de um trabalho inédito, pois geralmente estudamos cavernas em um ambiente fechado, com a circulação de ar muito restrita e a temperatura estável ao longo do ano. A conexão da Caverna da Onça com o clima externo nos permitiu avaliar que a seca também altera a química das formações rochosas de cavernas [espeleotemas]", explicou Cruz.
Ele destacou que "o aumento da evaporação causada pelo maior aquecimento diminui a recarga de água que alimenta os gotejamentos na caverna. Foram essas mudanças químicas na rocha, associadas à evaporação da água, que nos mostraram que estamos vivenciando uma seca sem precedentes".
O estudo faz parte de um projeto maior que busca reconstituir a variabilidade climática e as mudanças climáticas durante o último milênio, utilizando registros de formações rochosas em cavernas e anéis de crescimento de árvores. "A nova metodologia e a validação dos dados do nosso trabalho abrem caminho para que mais estudos em outras cavernas, de outras regiões e biomas, sejam realizados. Com esse tipo de abordagem será possível ter uma reconstituição do clima do país de uma forma mais precisa", afirmou Cruz.
Além das estalagmites, o grupo está conduzindo estudos de paleoclima com base em árvores fósseis encontradas no mesmo parque nacional, em parceria com biólogos. "São fósseis de umburanas encontrados dentro das cavernas e que ficaram protegidos da luz por mais de 500 anos. Somando os resultados do nosso estudo com o que está sendo realizado nas árvores fósseis, obtivemos dados independentes sobre esse mesmo fenômeno", concluiu.
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