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DivulgaçãoRede Novo Mundo entra em recuperação judicial com passivo de R$ 735 milhões; varejista goiana busca recuperação após prejuízo de R$ 13 milhões em 2023, atribuindo dificuldades ao cenário econômico e à pandemia
Rede Novo Mundo entra em recuperação judicial com passivo de R$ 735 milhões
01/08/2024, às 11:10 · Por Redação
A rede varejista Novo Mundo, uma das mais tradicionais do Centro-Norte do Brasil, fechou o ano de 2023 com um passivo de R$ 735 milhões junto a fornecedores e instituições financeiras, conforme suas demonstrações financeiras de 31 de dezembro de 2023, divulgadas em março deste ano. Diante dessa situação, a empresa protocolou um pedido de recuperação judicial no último dia 25 de julho, cujo montante total das dívidas vencidas ainda não foi revelado.
Segundo os dados financeiros divulgados pela empresa e analisados por um auditor, ainda não é possível determinar a totalidade do valor já vencido que está incluído no pedido de recuperação judicial, uma vez que o processo permanece em segredo de Justiça. Caso o pedido seja deferido, esses números poderão ser divulgados. Em comunicado ao mercado, a Novo Mundo justificou a medida pelos desafios enfrentados pelo setor varejista brasileiro devido à pandemia de Covid-19, somados à alta inflação, às elevadas taxas de juros e à restrição de crédito. "O pedido é uma alternativa para retomar o crescimento e superar mais uma crise", declarou a empresa, que está no mercado há 68 anos.
As demonstrações financeiras da empresa já evidenciavam a preocupação da administração com o cenário financeiro, ressaltando a necessidade de monitorar a capacidade de cumprir obrigações financeiras e de capital de giro. Em 2023, a Novo Mundo registrou um prejuízo de quase R$ 13 milhões, influenciado pela restrição de crédito ao consumidor e pela diminuição do poder de consumo das famílias. Nos últimos meses, a empresa reduziu suas operações de 150 para 91 unidades, mantendo os demais canais de venda e continuando a operar normalmente. Com 1.300 colaboradores, a empresa espera renegociar suas dívidas e ajustar os estoques com a recuperação judicial, voltando a ser adimplente com os serviços contratados.
Outro objetivo é manter os empregos e os prestadores de serviço. "A Novo Mundo está confiante que este desafio será vencido e que voltará a crescer, voltando a contratar e se mantendo entre as principais empresas do varejo do Centro-Norte do País", afirmou a rede goiana. A Novo Mundo possui operações nos estados de Goiás, Tocantins, Pará, Maranhão e no Distrito Federal.
Ao jornal O Popular, o auditor e consultor contábil Cassius Pimenta explicou que se o pedido de recuperação fiscal for deferido, a empresa terá um fôlego temporário para tentar resolver sua situação. Uma vez aceito o pedido, a empresa terá seis meses para elaborar o plano de recuperação, período durante o qual não poderá sofrer execuções. "As dívidas podem ser paralisadas, exceto alguns endividamentos por alienação fiduciária", destacou o auditor. Embora uma reestruturação geralmente implique demissões e fechamento de lojas, a recuperação judicial também pode resultar em uma maior restrição de crédito junto a fornecedores.
Pimenta ressaltou que o setor varejista está sofrendo bastante, com muitas redes em recuperação em todo o país. "Mas, hoje, o mercado enxerga melhor o instituto da RJ, que não é mais visto como uma sentença de falência para a empresa. Há vários casos de grupos que entraram e já saíram ou estão saindo dela. Tudo só precisa ser bem trabalhado", afirmou, citando as redes de drogarias Santa Marta e de materiais de construção Irmãos Soares como exemplos de sucesso em seus processos de recuperação judicial. No entanto, também mencionou exemplos negativos, como o supermercado Marcos e o Grupo Coral, que não conseguiram se recuperar e foram à falência. Muitos produtores rurais no interior de Goiás também estão entrando em recuperação judicial atualmente. "Isso não é algo que assusta mais", acredita o auditor.
Em nota, a Novo Mundo afirmou que sempre se pautou pela transparência em todas as suas ações e que continuará assim. "O valor da dívida foi informado nos autos do processo e a empresa não tem autorização para divulgar", ressaltou. A rede acredita no processo legal de deferimento e está confiante de que este desafio será superado, voltando a crescer e a se manter entre os principais varejistas do Centro-Norte do país. O relatório da administração nas demonstrações financeiras também destacou que, apesar do aumento dos empregos formais, o cenário em 2023 foi desafiador para os negócios dependentes do crédito ao consumidor, um fator crucial para ampliar a rentabilidade do setor.
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