PT adota neutralidade em Goiânia e Curitiba, mas trabalha para conter bolsonaristas nos bastidores

Após ficar fora do segundo turno das eleições municipais em Goiânia e Curitiba, o PT enfrenta o desafio de lidar com o crescimento da direita e da extrema direita nessas cidades. Oficialmente, o partido decidiu adotar uma postura de neutralidade em ambas as capitais, mas nos bastidores, lideranças petistas estão se movimentando para tentar conter o avanço de candidaturas ligadas ao bolsonarismo.

Em Curitiba, o cenário é marcado pela disputa entre o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) e a jornalista Cristina Graeml (PMB). Em Goiânia, o empresário Sandro Mabel (União Brasil) enfrenta o bolsonarista Fred Rodrigues (PL). Embora o PT não tenha declarado apoio formal a nenhum dos candidatos, nos bastidores, há uma preferência por aqueles considerados menos prejudiciais aos interesses da esquerda.

Durante o primeiro turno em Curitiba, o PT não lançou candidatura própria e apoiou o deputado federal Luciano Ducci (PSB), que ficou em terceiro lugar, com cerca de 18% dos votos. Após a derrota, Ducci recomendou a neutralidade para o segundo turno. "Em respeito aos curitibanos que queriam uma administração voltada aos problemas sociais, a recomendação é pela neutralidade", declarou Ducci ao jornal O Globo.

No entanto, nos bastidores, há esforços para garantir que Eduardo Pimentel, que conta com o apoio do prefeito Rafael Greca e do governador Ratinho Júnior, consiga evitar uma derrota para Cristina Graeml. Pimentel, que tem como vice um político do PL e recebeu o apoio formal de Jair Bolsonaro, tenta se distanciar da imagem do ex-presidente, o que fortaleceu sua adversária.

Articuladores petistas acreditam que, diante da ascensão da extrema direita, não seria interessante para Pimentel ter o apoio público de figuras do PT em seu palanque. A estratégia de neutralidade, portanto, seria uma forma de proteger o candidato sem prejudicar sua campanha. Cristina Graeml, por outro lado, adotou um discurso antissistema e já alertou os eleitores para a possibilidade de apoios ocultos à candidatura de Pimentel.

Deputados petistas, como Tadeu Veneri, preferem não declarar apoio a nenhum dos lados. "Entre defender a extrema direita e a direita, prefiro nenhuma decisão. Vou votar nulo porque não vejo alternativa", disse Veneri, destacando que as práticas de ambos os candidatos são semelhantes.

Para o PT, Cristina Graeml representa um risco maior. A jornalista, que já trabalhou como colunista na “Gazeta do Povo”, defende pautas radicais, como a anistia aos presos dos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Em Goiânia, a situação é semelhante. A deputada federal Adriana Accorsi (PT), que ficou fora do segundo turno por uma diferença de três pontos percentuais, mantém conversas discretas com lideranças locais. A possibilidade de uma aliança silenciosa com Sandro Mabel é discutida, já que o empresário tem apoio do governador Ronaldo Caiado, que sempre teve uma relação cordial com Accorsi.

Nos bastidores, há um entendimento de que uma vitória de Fred Rodrigues seria mais prejudicial à esquerda, o que leva a uma preferência por Mabel, mesmo sem um apoio público declarado. "Um lado não tem espaço para ir, que é o do PL, e o outro a gente também não sabe bem o que esperar", afirmou o vereador eleito Professor Edward (PT), sugerindo que o partido busca manter canais abertos com Mabel.

Em nota, Sandro Mabel negou diálogos formais com o PT, destacando que sua prioridade é dialogar diretamente com os eleitores e segmentos organizados, como sindicatos e servidores municipais. No entanto, a movimentação discreta entre petistas e o candidato do União Brasil pode influenciar o resultado final da eleição na capital goiana.

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