Crise no estoque de leite materno em Goiânia ameaça bebês prematuros

A escassez de doações de leite materno nas três maternidades municipais de Goiânia alcançou níveis críticos, com uma redução de 40% registrada no segundo semestre deste ano. Essa queda ameaça o atendimento a bebês prematuros e de baixo peso que dependem do alimento para sobreviver e se desenvolver. Para manter o abastecimento regular, seriam necessários ao menos 115 litros por mês, volume que está longe de ser atingido atualmente.

Coordenador do Banco de Leite Humano (BLH) da Maternidade Nascer Cidadão, Sebastião Leite explicou ao jornal O Popular que a interrupção de atendimentos eletivos nas maternidades desde setembro contribuiu para o problema. "Com menos nascimentos, houve uma redução no fluxo de lactantes que poderiam se tornar doadoras. Isso impactou diretamente os estoques", afirmou. Os atendimentos começaram a ser retomados gradualmente apenas em novembro, mas a recuperação das doações ainda enfrenta obstáculos, especialmente com a proximidade do fim de ano, período em que muitas doadoras viajam.

O leite humano é essencial para a recuperação de recém-nascidos internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais, ajudando a prevenir infecções e fortalecer órgãos ainda em desenvolvimento. "Uma criança que mama tem menos chances de morrer", destacou Leite. Ele também alertou para a necessidade de aumentar a conscientização nos hospitais privados, incentivando as pacientes a se tornarem doadoras.  

Após a coleta, o leite materno passa por análise, pasteurização e armazenamento, podendo ser utilizado por até seis meses. Leite reforçou a importância de as mães buscarem o sistema de saúde para doar com segurança, alertando contra a prática de amamentação cruzada devido ao risco de transmissão de doenças.

A assistente de Recursos Humanos Isadora Rodrigues, de 28 anos, é uma das doadoras que contribuem para aliviar a crise. Mãe da pequena Cecília, de quase dois meses, Isadora descobriu sua capacidade de hiperlactação ao perceber o excesso de leite. "Eu desperdiçava muito leite, então decidi doar. Consigo encher um vidro de 500 ml por dia. É maravilhoso saber que outros bebês estão sendo ajudados", relatou.

O Hospital Estadual da Mulher (Hemu), que conta com o apoio do Corpo de Bombeiros para coletar doações, também reforça a importância do gesto. As doadoras recebem frascos esterilizados e podem agendar coletas domiciliares, facilitando o processo.

A campanha "Amamentação, Apoie em Todas as Situações", lançada pelo Ministério da Saúde em agosto, e a criação do Comitê Nacional de Amamentação são esforços para elevar a taxa de aleitamento materno no Brasil. O objetivo é garantir que mais mães sejam incentivadas a amamentar e a doar.

Em Goiânia, mães interessadas em doar podem contatar o Banco de Leite Humano pelo número (62) 3956-2921. O serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e oferece suporte completo às doadoras, desde orientações até a coleta em domicílio.

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