Coluna do Pablo Kossa: Todo 'soft power' dos EUA foi para o lixo

A excitação com o rebolado do Elvis Presley. O deslumbramento com o skate voador de De Volta pro Futuro 2. O encantamento com os voos de Michael Jordan. O reconhecimento de Tocqueville com o sistema político que influenciou o planeta. A ilusão do mundo fantástico criado por Disney.

 

Tudo isso destruído.

 

Donald Trump conseguiu uma proeza inacreditável: jogou no lixo todo poderoso soft power que os Estados Unidos construíram ao longo do século XX em pouquíssimo tempo.

 

Todo mundo sabe que erguer algo é muito mais custoso e demorado do que botar abaixo. Compare o tempo para subir uma casa do zero ao que leva para demoli-la. Pense nos anos que passam para uma árvore ficar frondosa em relação ao tempo para derrubá-la com a motosserra.

 

Pois é, o poder simbólico, aquele tão estudado por Pierre Bordieu, dos EUA foi reduzido a ruínas pelo atual inquilino da Casa Branca.

 

Ninguém é trouxa de não perceber que ao lado do soft power americano sempre existiu uma máquina de guerra colossal. Hard power poderosíssimo ao alcance quando as ideias não fossem suficientes.

 

No caso brasileiro, tínhamos o Zé Carioca e o Pato Donald abraçados, mas também havia um porta-aviões ao dispor da milicada golpista de 1964 para qualquer eventualidade.

 

 Se o objetivo do Tio Sam não fosse alcançado pela sedução, o porrete estava ali garantir o intento. Agora é direto no tiro, porrada e bomba mesmo, sem rodeios.

 

Tem quem diz que é melhor assim, sem hipocrisia e tudo às claras. Não tenho essa convicção. Acho que quando o mais forte tenta se impor primeiro pela lábia, a coisa tende a ser menos brutal.

 

Mas essa dúvida será rapidamente dirimida. Com o delírio megalomaníaco imperial de Trump, logo saberemos se a lógica do século XX era melhor ou pior do que a que se avizinha.

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