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Estudantes na aula inaugural do UFGInclui: ações afirmativas na Universidade são anteriores à Lei de Cotas

Mais da metade dos estudantes da UFG são negros

28/03/2025, às 09:10 · Por Redação

A Universidade Federal de Goiás (UFG) atingiu em 2024 uma marca histórica: mais da metade dos estudantes de graduação da instituição são negros. O salto de representatividade, que foi de 10% em 2010 para 53% neste ano, reflete o impacto direto das políticas públicas de inclusão, como a Lei de Cotas e o programa UFGInclui, além do aumento no número de vagas ofertadas. As informações são do jornal UFG.

De acordo com a plataforma Analisa UFG, atualmente há 7.595 estudantes negros matriculados — número cinco vezes maior que o registrado em 2010, quando havia apenas 1.533. Pela primeira vez, os alunos negros ultrapassaram, ainda que por uma margem estreita, o total de brancos, que representam 52% do corpo discente.

Esse avanço, embora expressivo, ainda não reflete totalmente a composição demográfica do estado. Segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população negra — somatório de pretos e pardos — corresponde a 63% dos goianos. Já em nível nacional, os negros são 55%, número próximo ao dos matriculados na UFG.

A transformação teve como ponto de virada a sanção da Lei 12.711/2012, que determinou a reserva de 50% das vagas em instituições federais para estudantes de escolas públicas. Dentro desse percentual, há recortes para pretos, pardos, indígenas e, desde 2023, quilombolas, respeitando a proporção populacional de cada grupo em seu estado de origem.

Ainda que juntos formem o grupo considerado negro, pretos e pardos apresentaram comportamentos distintos ao longo do tempo. Entre 2010 e 2024, o número de estudantes pardos saltou de mil para 7,3 mil, enquanto o de pretos subiu de 466 para 2 mil. O crescimento mais acentuado entre os pardos ocorreu em 2018, quando chegaram a 8,4 mil matriculados. Desde então, esse número vem diminuindo levemente. Já o pico entre os estudantes pretos foi registrado em 2021, com 2,1 mil, mantendo-se estável nos anos seguintes.

Para a secretária de Inclusão da UFG, professora Luciana de Oliveira Dias, o fenômeno é reflexo das estruturas da sociedade brasileira. “As políticas de ações afirmativas apresentam uma espécie de vantagem em ser negro em uma sociedade na qual as pessoas negras só têm desvantagens, porque são altamente discriminadas. Mas mesmo com essa vantagem, a gente observa que o ‘racismo à brasileira’ permite hierarquizar, em camadas múltiplas, esse segmento que a gente chama de negro, separando em preto e pardo, elevando as vantagens dos pardos e reduzindo ou não elevando na mesma proporção as vantagens sociopolíticas das pessoas pretas”, disse ao jornal UFG.

O avanço na autodeclaração racial também é notável. Em 2010, quase 60% dos estudantes não informavam cor ou raça. Hoje, esse índice caiu para 3,5%. A mudança está ligada à exigência de autodeclaração para concorrer às vagas reservadas pela Lei de Cotas, além do fortalecimento do Movimento Negro, que ampliou a consciência identitária entre os estudantes.

Mesmo antes da legislação federal, a UFG já dava passos nessa direção. Em 2008, criou o programa UFGInclui, com foco na inclusão de indígenas, quilombolas, surdos e alunos de escolas públicas. Após a implantação da Lei de Cotas, o programa foi reformulado para atender exclusivamente os dois primeiros grupos, com a oferta de vagas adicionais em todos os cursos.

A doutora em Linguística Ludmilla Pereira, egressa da UFG, relembra a transformação promovida pela entrada de estudantes negros na universidade. “Nós não apenas nos tornamos os primeiros de nossas famílias a cursar a universidade, mas aqueles que já estavam ali também começaram a refletir sobre isso. Em 2011, não via diversidade nem entre os alunos, nem no corpo docente”.

Outros grupos também tiveram aumento de representatividade. A quantidade de estudantes autodeclarados amarelos cresceu mais de 400%, passando de uma média de 35 para 180 matriculados por semestre. No entanto, esse avanço é explicado mais pela dinâmica populacional do que por políticas específicas, como observa Luciana Dias. “A população de origem oriental não olha para a Universidade Federal de Goiás como um desejo”, diz.

Os indígenas, por sua vez, passaram de 175 para 440 estudantes entre 2010 e 2024. Desde 2006, a UFG oferece o curso de Licenciatura em Educação Intercultural, exclusivo para indígenas, por meio do Núcleo Takinahakỹ, o que contribuiu para esse crescimento e para o fortalecimento da identidade dos povos originários.


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