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Goiânia, 19/04/25
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Spray apresentou resultados promissores

Óleo de pequi desenvolvido pela UFG terá uso para diminuir dores crônicas em mulheres

16/04/2025, às 10:26 · Por Redação

Um dos símbolos da cultura do Cerrado, o pequi agora ganha destaque também no campo da ciência. Conhecido popularmente por suas propriedades terapêuticas, o óleo extraído do fruto tradicional da região foi transformado em um spray inovador, desenvolvido com nanotecnologia pelo Laboratório de Nanotecnologia e Sistemas de Liberação de Fármacos (NanoSYS), da Universidade Federal de Goiás (UFG). A nova formulação apresentou resultados promissores em pacientes com osteoartrite, condição crônica que causa dor e limitações de movimento devido ao desgaste das cartilagens.

A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que, até 2050, a osteoartrite atinja cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo. Atento a esse cenário, o estudo começou no Ceará, com a equipe do professor Irwin Menezes, da Universidade Regional do Cariri (Urca), que há anos investiga os potenciais medicinais do óleo de pequi. A pesquisa ganhou força ao se tornar uma colaboração com a Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde foram realizados os ensaios clínicos, e com a UFG, que trouxe a nanotecnologia como diferencial.

“Colocamos o óleo dentro de uma nanoestrutura, e isso fez toda a diferença”, explica Ricardo Marreto, professor da Faculdade de Farmácia da UFG e coordenador do Laboratório NanoSYS, ao lado da pesquisadora Stephania Taveira. “A formulação ficou mais fácil de espalhar, tem um sensorial melhor e age de forma mais rápida na articulação”, acrescentou em entrevista concedida ao Jornal O Popular. 

Nos testes clínicos conduzidos na UFS, mulheres entre 40 e 65 anos, atendidas pelo Ambulatório de Reumatologia do Hospital Universitário, foram divididas em três grupos: um utilizou apenas fisioterapia, outro aplicou o spray, e o terceiro combinou as duas abordagens. Os resultados mostraram melhora significativa nos grupos que usaram a nova formulação, mesmo sem fisioterapia associada.

A tecnologia aplicada se baseia em manipular materiais em escala nanométrica — invisível a olho nu — para otimizar a absorção e eficácia de substâncias naturais. No caso do pequi, isso também significou reduzir o cheiro forte e a textura gordurosa do óleo, tradicionalmente aquecido antes do uso. “O modo tradicional não favorece a penetração da substância nas articulações”, comenta Marreto.

O Laboratório NanoSYS, criado em 2016, tem como foco valorizar ativos naturais utilizados na medicina popular brasileira. “Muitas vezes, o uso empírico desses produtos não é seguro nem eficiente. Nosso trabalho é dar uma formulação farmacêutica que aumente a eficácia e ofereça segurança”, afirma o pesquisador.

Além do spray de pequi, a equipe também trabalha em projetos como um repelente específico para gestantes — atualmente em processo de transferência para a Indústria Química do Estado de Goiás (Iquego) — e soluções sustentáveis para o agronegócio, voltadas ao controle de pragas sem impacto ambiental. “Logo teremos novidades”, antecipa Marreto.

Com a inovação aplicada ao conhecimento tradicional, o óleo de pequi sai da cozinha do Cerrado para ocupar espaço nos laboratórios e, futuramente, nas prateleiras das farmácias.


UFG Pequi Nanotecnologia Osteoartrite