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Foto: Jackson Rodrigues
A Prefeitura de Goiânia celebrou contrato de comodato (sem concorrência) com a Consiglog Tecnologia e Soluções Ltda para o uso de sistema de gestão de empréstimos consignados de servidores municipais
Sem licitação, Rogério Cruz contrata sistema de consignado em Goiânia
18/07/2021, às 02:00 · Por Eduardo Horacio
A Prefeitura de Goiânia celebrou contrato de comodato (sem concorrência) com a
Consiglog Tecnologia e Soluções Ltda para o uso de sistema de gestão de
empréstimos consignados de servidores municipais. O documento foi publicado na
edição do dia 5 de julho do Diário Oficial do Município. A
revelação é da repórter Karla Araújo, de O Popular.
O serviço estava sob responsabilidade direta da prefeitura
desde o início do mandato do ex-prefeito Iris Rezende (MDB), em 2017. Iris
tomou a decisão na época após verificar que o Paço tinha condições de
administrar o serviço por conta própria. Nos bastidores, a informação é de que
os empréstimos consignados de servidores do município giram em torno de R$ 20
milhões por mês.
Em 2016, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO)
acionou o município para que o contrato em vigência com outra empresa fosse
suspenso por ter adotado a modalidade comodato para a contratação. Na época, o
MP-GO determinou que fosse realizado processo de licitação para contratar nova
empresa. O comodato é como um contrato de empréstimo gratuito.
O MP-GO também verificou que havia atraso nos repasses dos
descontos em folha relativos aos empréstimos para as instituições financeiras
que concederam o crédito. Iris assumiu o comando da prefeitura em seguida,
quando a gestão do serviço ficou com o município.
A Consiglog tem, segundo a assessoria da empresa, dezenas de
contratos com órgãos e administrações públicas no País. Um desses contratos é
com a Prefeitura de Salvador, onde Eduardo Merlin - atual secretário executivo
de Administração (Semad) de Goiânia - ocupou o comando do departamento de
gestão de pessoas até o fim do ano passado. A informação consta no Portal da
Transparência da Prefeitura de Salvador.
Eduardo assumiu cadeira na Prefeitura de Goiânia em 25 de
março de 2021, no mesmo dia em que Fabiano Bissoto foi nomeado para estar à
frente da Secretaria de Administração. Fabiano era assessor do deputado
estadual e presidente municipal do Republicanos, Jeferson Rodrigues, e assumiu
o cargo após indicação do parlamentar. A entrada de Fabiano e Eduardo no Paço
ocorreu dias antes do desembarque do MDB.
Questionada pela repórter Karla Araújo sobre a relação entre
Eduardo e a Consiglog, a Semad informou que não há conexão entre a escolha da
empresa e o secretário executivo. Em nota, a pasta disse ainda que esta não foi
a única empresa a se apresentar à prefeitura com interesse em prestar o
serviço. A repórter tentou, sem sucesso, contato com Eduardo.
Também em nota, o MP-GO disse que nenhum questionamento
sobre o contrato chegou à instituição, mas, caso isso ocorra, o assunto será
apurado. O MP disse ainda que “não há como a instituição adiantar
posicionamento sobre o tema”. O contrato entre a Prefeitura de Goiânia e a
Consiglog é de até cinco anos.
Serviço
Em nota, a empresa informou que concedeu gratuitamente à Prefeitura de
Goiânia a licença de uso do sistema LogConsig, que centraliza a realização de
descontos consignados. Empresas que fazem gestão deste tipo de serviço lucram
ao cobrar taxas dos bancos por linha de crédito processada. Segundo a
assessoria da Consiglog, a taxa relativa a Goiânia ainda está em negociação.
De acordo com a Semad, a decisão por procurar o serviço de
uma empresa foi tomada devido a problemas de manutenção do sistema e tecnologia
defasada, que, segundo a pasta, eram utilizados desde a década de 1970 e 1980.
Ainda segundo a Semad, o sistema apresentava “graves problemas e deficiências
no processo, que podem gerar prejuízos aos cofres públicos e aos próprios
servidores”. A pasta informou que o sistema não atraía empresas consignatárias,
o que fazia com que a prefeitura trabalhasse com 10 opções, quando outros
sistemas abrem o leque para mais de 40.
Questionada sobre a escolha do contrato de comodato, a Semad
afirmou que a decisão foi tomada porque o modelo é “juridicamente adequado e
administrativamente eficiente”. A secretaria informou que foram verificadas
experiências de outras cidades e a judicialização de processos licitatórios,
chegando à conclusão de que onde há brigas na Justiça o sistema não é
implantado. A pasta disse que as licitações nestes casos “são muito
controversas”.
“Não há problema na utilização do comodato, já que não há
valores econômicos envolvidos. A prefeitura não tem ônus, e passa a centralizar
as consignações a partir de uma plataforma, acessada pela prefeitura, pelas
consignatárias e pelos servidores, por meio da qual as operações são
realizadas”, diz. Também em nota, a Consiglog argumentou que o comodato é o
modelo jurídico dominante utilizado para contratações desta espécie.
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