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Foto: Laura Chaud
O Ato Público foi realizado no auditório do edifício-sede do MPGO, que tem capacidade para 240 pessoas, seguindo protocolos sanitários
Em ato em Goiânia, membros dos MPs falam em risco à autonomia e à independência funcional
18/10/2021, às 19:04 · Por Eduardo Horacio
Cerca de 90 membros dos Ministérios Públicos de Goiás
(MPGO), Federal (MPF), do Trabalho (MPT) e de Contas junto ao Tribunal de
Contas dos Municípios de Goiás (MPC-TCM) e do Estado de Goiás (MPC-TCE), bem
como representantes das entidades de classe – Associação Goiana do Ministério
Público (AGMP), Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e
Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) – realizaram, na manhã
desta segunda-feira, 18, um Ato Público contra a PEC nº 5/2021 e pela
Independência do Ministério Público.
O Ato Público foi realizado no auditório do edifício-sede do
MPGO, que tem capacidade para 240 pessoas. Foram seguidos os protocolos
sanitários de controle da disseminação do novo coronavírus, como
distanciamento, uso de máscaras e álcool em gel.
Para o procurador-geral de Justiça de Goiás, Aylton Flávio
Vechi, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 5/2021 interfere na atuação
do Ministério Público e, antes de ser votada pelo Plenário da Câmara Federal,
sua aprovação precisa ser debatida com a sociedade. “Não queremos um controle
do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que preserve mais a política
do que a técnica, nós lutamos por um Ministério Público livre e que defenda a
sociedade”.
Aylton Vechi, que participou do Ato Público por
videoconferência – ele está em Brasília (DF) acompanhando, com o Colégio de
Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos do Estado e da União (CNPG), as
articulações para a votação na Câmara Federal –, afirmou que a PEC nº 5/2021 é
o mais violento ataque à instituição desde a promulgação da Constituição
Federal, em 1988. Segundo ele, a mobilização é para “a preservação da nossa
autonomia. Não admitimos qualquer interferência política na atuação de
promotores e procuradores de Justiça. Não queremos um corregedor nacional que
não conheça a nossa realidade”, disse.
A subprocuradora-geral de Justiça para Assuntos
Institucionais e coordenadora do Centro de Apoio Operacional (CAO), Laura Maria
Ferreira Bueno, explicou que o Ato Público tinha como objetivo a defesa da
sociedade. “Defender o MP é defender a sociedade. Atuamos em defesa do cidadão
e dos interesses dos mais vulneráveis, dos que não são representados”, afirmou.
Para Laura Maria Ferreira Bueno, a PEC nº 5/2021 ameaça a
autonomia e a independência do MP. “Este é o momento mais grave vivido pela nossa
instituição”, afirmou, lembrando também da PEC nº 37/11 – que tentou tirar a
autonomia do MP de investigar – e do Projeto de Lei nº 7180/14 (ficou conhecida
por Lei da Mordaça). Ela reiterou a união dos membros da instituição na defesa
das garantias constitucionais.
O presidente da Associação Goiana do Ministério Público
(AGMP), José Carlos Miranda Nery Júnior, afirmou que a PEC nº 5/2021 destrói os
dois pilares que sustentam os MPs, a autonomia e a independência funcional.
Segundo ele, ao aumentar o número de membros do CNMP e definir a escolha, pelo
Congresso Nacional, do corregedor nacional do MP, há uma quebra de simetria com
o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão de controle externo do Poder
Judiciário, criado simultaneamente com o CNMP.
De acordo com José Carlos Miranda Nery Júnior, haverá a
desconstituição do poder de promotores e procuradores de Justiça, “indo muito
além do controle correicional”. Ele explicou ainda que o Ato Público não
significava a defesa corporativa do MP, mas de defesa do estado democrático de
direito, da cidadania e das prerrogativas e atribuições da categoria. “O MP
precisa ser forte para defender a sociedade”, afirmou.
Pilares
O vice-procurador-chefe do MP do Trabalho e representante da ANPT, Marcello
Ribeiro, afirmou que uma atuação plena do MP depende da autonomia e da
independência de seus membros. A aprovação da PEC, da forma como foi
construída, segundo ele, é prejudicial a toda a sociedade, por dificultar a
atuação dos que defendem o interesse daqueles que não têm voz.
Segundo o procurador da República Alexandre Moreira Tavares,
a consequência prática à atuação dos MPs, com a edição da PEC nº 5/2021, é que
seja colocada em risco a defesa da sociedade. Para ele, a Constituição Federal
de 1988 trouxe princípios que garantem a possibilidade de enfrentamento às
atitudes que confrontem os direitos dos menos assistidos.
A procuradora-chefe do Ministério Público de Contas junto ao
TCE, Maísa de Castro Sousa, entende que haverá ingerência política nas atuações
em defesa da probidade administrativa, do meio ambiente e da Saúde, bem como no
controle e combate à corrupção. “O momento é de união de todos os ramos do MP.
Jamais abandonaremos a sociedade”, disse.
Participaram do Ato Público de forma presencial, além de
promotores e procuradores de Justiça do MPGO, o procurador-chefe do MPT-GO,
Alpiniano do Prado, e os procuradores-regionais do Trabalho Cláudia Telho e
José Marcos da Cunha Abreu; a procuradora de Justiça Ivana Farina Navarrete
Pena, conselheira do CNJ; o deputado federal José Nelto e o deputado estadual
Eduardo Prado. Prestigiaram o encontro, por videoconferência, o senador Jorge
Kajuru, os deputados federais Elias Vaz, Glaustin da Fokus, Francisco Júnior,
Zacharias Calil, João Campos e delegado Waldir.
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