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Foto: Asmego
Neste mês, Levine Artiaga solicitou aposentadoria por invalidez, que ainda dependerá de avaliação da Junta Médica Oficial do Poder Judiciário Goiano
Juiz goiano é investigado por supostas fraudes milionárias em decisões sobre paternidade
25/10/2021, às 19:01 · Por Redação
O juiz goiano Levine Raja Gabaglia Artiaga, da Comarca de
Corumbá de Goiás, é alvo de uma investigação do Ministério Público do Estado de
Goiás (MP-GO) por crimes que teriam causado prejuízo de pelo menos R$ 18
milhões envolvendo decisões fraudulentas de testes de paternidade. O esquema
veio à tona neste domingo, 24, após reportagem do Fantástico, da TV
Globo.
Além do magistrado, dois ex-policiais e oito advogados
participavam supostamente das fraudes. As contas bancárias de pessoas vivas ou mortas, sem
movimentação recente, eram zeradas após as decisões proferidas por Levine
Artiaga.
Segundo o MP, um grupo se apresentava com uma história
irreal solicitando o teste de paternidade/maternidade. Enquanto os policias
auxiliavam nas escolhas das vítimas potenciais, os advogados cuidavam do
processo. O juiz Levine Artiaga, supostamente, tinha contato apenas com um integrante da
quadrilha, responsável por repassar parte do dinheiro do golpe.
Uma das personagens do golpe é Eucrídia Barbosa da Silva, de
44 anos, moradora de Inhumas. Na Justiça, porém, afirmou ter sido abandonada
pelo pai e que não o conheceu. Solicitou então o reconhecimento de paternidade
socioafetiva pelo vínculo de convivência com um francês, Roger Lavallard, que
ela jamais conheceu. Ele era professor da Universidade de São Paulo (USP), não
tinha família no País e morreu em 2010, deixando uma conta milionária.
Eucrídia conseguiu o reconhecimento da paternidade,
acrescentou o nome do professor francês ao seu e seis dias depois solicitou
acesso à conta corrente do falso pai. Assinada pelo juiz Levine Artiaga, a
decisão saiu no mesmo dia. O irmão de Eucrícia, Niemier Barbosa, participou de
golpe idêntico contra uma vítima que morreu há 10 anos e que também havia
deixado uma fortuna na conta bancária. Os irmãos tinham os mesmos advogados, as
mesmas testemunhas e protocolaram as ações no mesmo dia.
O Fantástico apurou que a Procuradoria-Geral de
Justiça de Goiás realiza um levantamento das decisões do juiz Levine Artiaga.
Os promotores teriam encontrado pelo menos 43 ações suspeitas e até comprovado crimes em pelo menos seis delas. Somados os crimes, incluindo corrupção, o juiz
pode ser condenado a uma pena de 240 anos.
Afastamento e julgamento
Levine Artiaga foi afastado cautelarmente em 2 dezembro de 2020 do exercício do
cargo de juiz de direito pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado
de Goiás (TJ-GO). Posteriormente, a decisão foi ratificada pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ).
Neste mês, Levine Artiaga solicitou aposentadoria por
invalidez, que ainda dependerá de avaliação da Junta Médica Oficial do Poder
Judiciário Goiano. O pedido ainda está em andamento inicial e sem previsão de
decisão final. Em nota, a defesa do magistrado afirmou que ele foi vítima da
quadrilha e que a falsificação dos documentos não era perceptível.
O Tribunal de Justiça decidirá sobre a carreira do juiz
Levine Artiaga na próxima quarta-feira, 27, em julgamento de um processo
administrativo disciplinar instaurado contra o magistrado. Além disso, uma ação
penal foi ajuizada no TJ-GO pelo Ministério Público, ainda em fase inicial.
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